Vagna Abbas

DESEJO,levar ao maior número de pessoas o conhecimento, dor,revolta e omissão do Gov.o Brasileiro e Libanês.O sequestro de meus filhos.Retirados ilegalmente do Brasil e levados ao Líbano, mantidos lá até hj. Há quase 10 anos nada sei sobre eles, onde moram? Anos de tortura mental,dor,gasto emocional. Se estudam...se estão vivos ...absolutamente nada...só me restou lágrimas , ângustias ,desilusões , medo , gasto...Não sei mais o que fazer...apenas confio em Deus.

27 outubro, 2006

Orfãos da Injustiça

Introdução
26/02/99
Nosso país é conhecido mundialmente pelo carinho e amor com que recebemos todos os estrangeiros e, nesse sentido, fica muito difícil saber quem é realmente brasileiro e quem não é. Mesmo os índios, hoje em dia, não são totalmente índios, todos temos traços de algum povo, seja ele italiano, alemão, japonês, libanês... etc.

Por estes motivos, não estranhei quando conheci meu marido que, apesar de ter um nome diferente, Atef Said Abbas, não era muito distante do meu: Vagna, igualmente diferente.

Mal sabia eu o que o destino reservava, não apenas pra mim, como também para os meus dois filhos, Bilal e Hamze que me envolveram em uma incrível batalha que envolve a justiça de dois países, parentes, amigos, imprensa, tudo! E é uma luta, que luto até hoje.

Já relatei minha história diversas vezes a todos a quem pude encontrar e que de fato podiam ouvi-la: repórteres, juízes, advogados, amigos e até mesmo a curiosos, tudo na esperança de que pudessem, de alguma forma, ajudar. Porém desta vez é diferente, estou disposta a relatar a minha história com o desejo de que ela, talvez, suavize a dor que sinto... Quem sabe não traga luz a pessoas que poderiam passar por situações semelhantes? Quem sabe eu não poderia ajudar alguém escrevendo essa história de momentos bons e ruins? Se isso fôsse o bastante, já me sentiria feliz mas essa história é principalmente uma homenagem aos meus dois filhos perdidos: Bilal Atef Abbas e Hamze Atef Abbas. Saibam que ainda os amo e que tenho esperança de que, algum dia, leiam esses relatos.

Também quero protestar, gritar aos quatro ventos a forma omissa que o governo brasileiro e libanês trataram do caso, dos crimes cometidos, do rapto de crianças inocentes que perderam o maior tesouro que poderiam ter: sua mãe. Todos que têm uma mãe sabem como ela é importante em nossas vidas e sabem que não há nada que a substitua, então... podem avaliar o tamanho da perda.

Meus pequenos... Meus pequenos não têm capacidade de avaliar, não sabem o que houve, sorriem pra quem lhes tirou a mãe, vivem com essa pessoa sem saber do mal que ela fez, não apenas a elas como a mim! Com 10 meses mal se sabe o que aconteceu, com 3 anos temos apenas uma leve noção: sua inocência é que as faz ficarem longe de mim, mas sei que isso não há de durar para sempre... Uma hora eles IRÃO crescer e vão querer saber o que se faz de sua mãe!

E qual o sentido disso? Porque raptar duas crianças? Porque tirá-las tão cedo de sua mãe? Até onde um homem pode chegar pra prejudicar alguém? É tão absurdo que parece quase impensável, uma ficção, mas, no entanto, aconteceu! E ainda acontece nos dias de hoje.

Não consigo imaginar o que se passa na cabeça de um homem que faz isso. Por mais que tente, não consigo. O que o faz odiar tanto a figura materna? Como ele conseguiu traçar seus planos? Será que ele se escondeu? Saiu para pensar e voltou? Ou será que foi quando eu estava fazendo um bolo ou simplesmente passando roupas? Como ele conseguiu? Como se rapta duas crianças bem debaixo do nariz de sua mãe e ainda se sai de um país sem que as autoridades nada façam pra impedir? Entre os muitos absurdos deste nosso país, esse é um deles.

Me pego pensando: será que as autoridades libanesas ficam constrangidas com esse escândalo? Ou será que não? Será que esse crime é tão comum no Líbano que nem ligam mais? Será que já se acostumaram com isso?

Viajei duas vezes ao Líbano atrás de meus filhos e, acreditem, encontrei outras mães na mesma situação que a minha. Não pude deixar de ouví-las então, espero que escrevendo esta história, elas também possam ser ouvidas, assim como eu quero que me ouçam. Mas até quando vou esperar?

Essas perguntas me acompanham dia e noite durante quase dez anos de sofrimento do rapto, até os dias de hoje. As poucas respostas que consigo, passo para meu advogado no Líbano, imaginando que isso vá ajudar alguma coisa, porém, já me acostumei com o fato de que muitas perguntas permanecem e permanecerão sem resposta. Todos os dias agradeço a Deus por me dar um espírito manso e uma esplêndida saúde, sem os quais, certamente eu ficaria louca ou teria um infarto. E foi graças a esse espírito que prometi a mim mesma que teria a vida toda para resgatar meus filhos. Será que encontrarei minhas respostas? Só Deus sabe. Mas meus filhos? Com certeza encontrarei.

Tudo que sei sobre os libaneses é o que vi na família de meu marido, então, é de se esperar que eu cometa algumas injustiças, pois minha visão deles, minha interpretação do que ocorreu é baseada naquilo que vivi e senti. Fui traída, roubada e enganada justamente pelo homem que deveria proteger a mim e nossa família. Fica claro que vou vê-lo de forma negativa, não há como escapar disso.

Sempre tive a noção de que a justiça é igual para todos, independente de raça, nacionalidade ou credo. Meu marido não era religioso e, se era, nunca achei que fôsse. Ele dizia que religião era para os pobres e que seu desejo era justamente ficar rico. Pelo que sei, os muçulmanos consideram pecado tirar os filhos de uma mãe que ainda está amamentando, mas meu marido se usou da religião. Será que ele sente culpa? Medo? Remorso? Será que ele realmente está preocupado se Deus vá repreendê-lo ou não por isso? Não sei dizer. Só quero meus filhos, nada mais.

E depois de tudo que vivi e vi, decidi escrever minha história e de meus filhos.

3 Comentários:

  • At 5:27 PM, Anonymous Anônimo said…

    Vá,

    Você sabe que sempre pode contar comigo, pro que der e vier.
    Apesar de toda sua dor e trauma, você contiou firme e forte e não desiste nunca de seu objetivo.
    Um beijo e fica em paz

     
  • At 1:18 PM, Blogger Unknown said…

    O que posso dizer é que vc é e sempre será uma vencedora, e não desista nunca pq se nem Deus desiste de nós... Eu acho q seu ex marido teve e tem a ajuda de um parente bem próximo a vc. Espero q vc consiga pelomenos ver seus filhos, e concerteza qdo eles puderem se mandar vão querer conhecer essa mulher lutadora e vencedora q é vc. Que Deus te abençoe hoje e sempre, a paz do senhor esteja sempre contigo...

     
  • At 12:00 AM, Anonymous Silvia Kulak said…

    Vagna, eu ainda era solteira quando acompanhei sua história pela televisão e me lembro até hoje nitidamente de uma imagem de você chegando para ver seus pequenos no Líbano e os dois assustados com a reação do pai corriam de você. Fiquei estarrecida com a maldade e hoje sou mãe de duas meninas, não consigo mensurar o tamanho da sua dor! Torço e rezo para que você possa ver seus filhos logo e voltar a conviver com eles para sempre! Me conte como estão hoje as coisas, eu gostaria de poder compartilhar da sua luta. Moro em Curitiba e m.eu e-mail: silviakulak@gmail.com
    Força e fé guerreira!

     

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